Sábado é dia de cinema I
Posso começar?
Ok.
Foi-me pedido para dar aqui um saltinho semanal, para vos falar duma das minhas paixões.
Não. Não é a ruiva fugosa do quinto esquerdo, é antes a minha paixão por uma das artes. A sétima para ser exacto.
O nosso primeiro encontro, aconteceu quando eu tinha cinco anos,numa noite de Outouno em que o meu pai me decidiu
levar pela primeira vez ao cinema.
O único cinema da cidade era um cinema-esplanada (agora nada mais que um pedaço de terra vazio), enfiado junto ao rio
e ladeado de prédios altos (onde muita gente via o cinema à borla sempre que quisesse). Se fosse lá agora, não sei como
o descreveria, por isso é que nunca mais lá fui espreitar, para me poder lembrar dele na minha mente de criança:
Filas intermináveis de cadeiras de plástico, muros altos que não deixavam ver a rua, uma tela enorme! Do tamanho do próprio
horizonte, um cheiro forte a pipocas misturado com uma euforia colectiva... É assim que para sempre o recordarei.
Agora vou-vos contar a outra parte, igualmente interessante da história, que é o filme.
"EU IA VER DINOSSAUROS!"
Não sabia nada sobre o filme, a não ser que tinha esses bichos formidáveis. Mas era mais do que suficiente para ficar todo
o santo dia empolgado.
Lembro-me perfeitamente: estava a tremer de frio mesmo bem agasalhado, não percebia nada do que os actores diziam porque o
filme estava em inglês e eu não sabia ler, lembro-me de estar quase a adormecer no colo do meu pai, mas não podia! Ainda
não tinha visto o dinossauro.
Foi uma luta desesperada que eu travei comigo mesmo, mas fui recompensado. Lá estava ele! Ocupava o ecrâ duma ponta à outra,
enorme, com um pescoço que chegava ao céu, umas patas que faziam os adultos do filme parecerem formigas, lá estava ele em
todo o seu esplendor. Lá estava o dinossauro que eu tanto queria ver.
Fiquei tão contente...
Depois de o ver, adormeci no colo do meu pai e só voltei a acordar quando cheguei a casa e fui logo contar à minha mãe e à
minha irmã que tinha visto um dinossauro.
Bom, onde eu queria chegar, com este pequeno passeio pelas minhas recordações, é à razão que me faz ir ao cinema e gostar
tanto de filmes:
"Eu vou sempre à procura do dinossauro."
Seja em que filme for, sento-me a olhar para o filme e procuro-o. Procuro voltar para aquele momento guardado na minha cabeça,
onde estou sentado ao colo do meu pai a ver o dinossauro e a saber que naquele momento não poderia ser mais feliz.
Nos filmes actuais à cada vez menos dinossauros, mas por sorte ainda os encontro de vez em quando.
Virei cá uma vez por semana falar-vos das vezes em que os encontrei e das vezes em que não.
Até para a semana e bons filmes.
João Valentim