Scott Pilgrim vs The World
É uma história de amor. Não, não estou a falar propriamente do filme, estou a falar da minha relação com ele. Tudo começou numa manhã quente de Verão, na qual eu encontrei o trailer a vaguear pela net e resolvi dar uma olhada.
Foi o trailer mais estranho, aleatório (e também alienante), sem sentido e divertido que vira há já imenso tempo. Soube logo que teria do ver.
Passei seis longos meses em que via sair críticas ao filme, análises, o dvd, a banda sonora, enfim, tudo excepto a data de lançamento em Portugal que parecia nunca mais chegar. Até hoje.
O meu longo namoro de seis meses ia atingir o seu zénite… Valeu a pena a espera?
Sim.
O dia foi chuvoso, eu estava cansado e o cinema onde fui é pouco frequentado e não vendiam pipocas, ou seja, todas as condições estavam do meu lado para passar uma boa tarde de cinema – excepto as pipocas, adoro comer pipocas.
O filme apresenta-nos a história dum rapaz com demasiadas hormonas e com um coração apaixonado que funciona do mesmo modo do que uma bússola que perdeu o norte magnético. A sua mais recente paixão acaba por ser uma rapariga com imensa bagagem emocional mais sete ex-namorados maléficos que o protagonista terá de derrotar caso queira ficar com ela.
Mais não adianto da história, porque não quero estragar a experiência a ninguém.
O que é que eu achei?
Tem bons efeitos visuais, faz-nos mesmo sentir que estamos dentro dum jogo, mas por outro lado, as emoções que nos suscita não são brincadeira nenhuma.
A personagem principal não é nenhum herói tragicó-romantico, nem nenhum pobre coitado que tem o mundo contra ele, ele é mesmo um cabrão de primeira durante grande parte do filme. Assim como a “vítima” do seu afecto é tudo menos uma rapariga frágil e inocente, é uma rapariga sofrida com um passado e manias difíceis.
Para mim este é um dos pontos em que o filme ganha: não glorifica as suas personagens nem os seus actos heróicos, apresentam-nos tal como são, sobressaindo os defeitos e deixando que a história se desenrola muito naturalmente. E é isso que o torna verdadeiro – não ligando às invocações de katanas, nem às lutas estilo série de anime, nem às inúmeras referências a jogos de vídeo e nem a tudo o mais que o filme nos atira à cara.
Podia estar aqui a fazer uma análise mais profunda, explorando como cada ex-namorado apresentado funciona como arquétipo do “porquê” da relação não ter resultado e o que implica a derrota de cada um dele e como a mesma acção nos leva a uma viagem de descoberta pelo passado e tudo e tudo e tudo…
Não o quero fazer, porque não quero estragar a minha experiência.
Apelando à imaginação, todo o rapaz que tenha saído duma relação amorosa à pouco tempo ou que ante à procura duma nova, vai ser capaz de se identificar com o filme em certos pontos e isso, para mim, é bastante importante. Feito de outra maneira, seria uma história de amor banal que nos serve a receita que já tão bem conhecemos desde a primeira vez em que o “Orgulho e Preconceito” foi publicado.
Personagens bem reais com dilemas e escolhas reais, que qualquer um de nós pode vir ter de tomar na sua vida, num mundo bastante irreal e sobretudo divertido. Temos as duas camadas: uma para quem quer só o efeito vídeo-jogo e as lutas anime e a segunda para quem quiser ver mais longe (não mandatório de modo algum) e constatar que não é assim tudo tão brincadeira como parece.
Sumariando: é um filme para toda a gente? Não. É divertido? É. Já vi filmes melhores? Já. Vale a pena ir ver? Não sei. Experimentem ver, se gostarem, então gostaram se não, têm mais um filme para acrescentar à lista de filmes que não voltarão a ver.
Este texto foi escrito, por convite, por Rapaz à Chuva